Sua voz parece diferente ultimamente? Talvez mais rouca, cansada… ou você se pega limpando a garganta (o famoso pigarro) com frequência, mesmo sem estar resfriado? E aquela ‘coisa’ incômoda de algo parado na garganta? 

Muitas vezes, associamos refluxo apenas àquela sensação de queimação no peito, a uma azia. Mas, e se eu lhe dissesse que o ácido do seu estômago pode estar subindo e afetando sua garganta e voz, sem que você sinta o desconforto clássico? 

Essa condição se chama refluxo laringofaríngeo (RLF), ela age sorrateiramente, podendo causar uma série de problemas que vão muito além do sistema digestivo. Por isso, compreender como essa condição se manifesta é o primeiro passo para identificar seus sinais e buscar a ajuda correta. 

Afinal, como algo que se origina no estômago pode impactar tão diretamente a saúde da sua voz e respiração, muitas vezes passando despercebido até que os sintomas se tornem mais persistentes ou incômodos?

O que é refluxo laringofaríngeo (RLF)?

Imagine que o conteúdo do seu estômago, incluindo ácido e enzimas digestivas, decide fazer um caminho contrário ao habitual. Em vez de seguir o fluxo normal da digestão, ele sobe pelo esôfago e alcança a parte de trás da garganta (faringe) e a caixa de voz (laringe). Esse é o refluxo laringofaríngeo.

Diferente do refluxo gastroesofágico (RGE), mais conhecido pela azia, o RLF frequentemente se manifesta de formas menos óbvias, afetando principalmente as vias aéreas superiores. Por isso, seus sintomas podem ser confundidos com outras condições, tornando o diagnóstico um desafio interessante.

Diferença sutil, impacto distinto: RLF x RGE

Embora ambos envolvam o retorno do conteúdo estomacal, a principal diferença reside em até onde esse material sobe e quais tecidos ele irrita predominantemente. No RGE, o refluxo geralmente fica mais restrito ao esôfago, causando a clássica azia e regurgitação.

No RLF, o conteúdo ácido consegue “escalar” mais alto, ultrapassando o esfíncter superior do esôfago e atingindo a laringe e a faringe. Essas estruturas são muito mais sensíveis ao ácido do que o esôfago, explicando por que mesmo pequenas quantidades de refluxo podem causar sintomas significativos na garganta e na voz, sem necessariamente provocar azia. 

É como uma gota de limão no olho versus na mão – a sensibilidade é drasticamente diferente. Essa distinção é fundamental para entender por que o RLF ganha o apelido de “refluxo silencioso”.

Por que é chamado de “silencioso”?

O termo “silencioso” pode ser um pouco enganador. Não significa que não haja sintomas, mas sim que os sintomas clássicos de azia e queimação no peito, comuns no RGE, estão frequentemente ausentes ou são muito leves no RLF. Os sinais tendem a ser mais relacionados à garganta e às vias respiratórias.

Essa ausência do sintoma mais “barulhento” do refluxo (a azia) faz com que muitas pessoas demorem a associar seus incômodos a um problema estomacal. A tosse crônica pode ser atribuída a uma alergia, a rouquidão ao uso excessivo da voz, e o pigarro a um simples hábito.

Sinais de alerta que não envolvem azia

Como o RLF se manifesta de forma atípica, é importante estar atento a outros sinais que podem indicar sua presença. Se você apresenta um ou mais destes sintomas de forma persistente, pode ser um indicativo de RLF:

  1. Pigarro constante: a necessidade frequente de limpar a garganta, como se algo estivesse preso.
  2. Tosse crônica: uma tosse seca e persistente, que piora ao deitar ou após as refeições, e não está ligada a resfriados ou alergias óbvias.
  3. Rouquidão ou alterações na voz: a voz pode ficar mais fraca, áspera, cansada ou até mesmo falhar, especialmente pela manhã.
  4. Sensação de globo faríngeo: aquela incômoda percepção de ter um “caroço” ou aperto na garganta. O famoso “nó na garganta”.
  5. Dificuldade para engolir (disfagia): sensação de que a comida “arranha” ou demora a descer.
  6. Dor de garganta crônica: um desconforto persistente na garganta, não necessariamente ligado a infecções.
  7. Problemas respiratórios: em alguns casos, o RLF pode contribuir para sintomas semelhantes aos da asma ou causar laringoespasmos (fechamento súbito das cordas vocais).

Percebe como esses sintomas podem facilmente ser confundidos? É a persistência e a ausência de uma causa óbvia que devem levantar a suspeita. A natureza “silenciosa” reside justamente na dificuldade de conectar esses sintomas à sua verdadeira origem: o estômago.

Compreender esses sinais é fundamental, pois a irritação contínua causada pelo ácido pode levar a problemas mais sérios se não for abordada corretamente.

O impacto na voz e na garganta: mais do que um incômodo

A exposição repetida da delicada mucosa da laringe e da faringe ao conteúdo ácido do estômago não é inofensiva. Pense nisso como um ataque químico constante a tecidos que não foram projetados para suportá-lo. O resultado é inflamação e irritação crônica.

Essa inflamação pode afetar diretamente as cordas vocais, levando a alterações na qualidade da voz, como rouquidão, fadiga vocal e dificuldade em alcançar certas notas (para cantores ou profissionais da voz). Além disso, a irritação na garganta causa o pigarro, a tosse e a sensação de corpo estranho.

Como o ácido agride suas cordas vocais?

As cordas vocais são estruturas extremamente delicadas, responsáveis pela produção do som através de sua vibração precisa. Quando o ácido e as enzimas digestivas (como a pepsina) entram em contato com elas, causam inchaço, vermelhidão e podem até levar à formação de pequenas lesões ou pólipos.

A pepsina, em particular, pode permanecer ativa nos tecidos da laringe mesmo em ambientes menos ácidos que o estômago, sendo reativada por episódios subsequentes de refluxo ou até mesmo pela ingestão de alimentos ácidos. Isso cria um ciclo vicioso de inflamação e dano, prejudicando a vibração normal das cordas vocais e, consequentemente, a qualidade da voz.

Ignorar esses sinais e não buscar um tratamento para refluxo adequado pode levar a danos mais persistentes na voz e aumentar o risco de outras complicações na garganta e vias aéreas.

A identificação correta do problema é, portanto, essencial para quebrar esse ciclo e iniciar o caminho da recuperação.

Identificando o problema: o papel do diagnóstico preciso

Dado que os sintomas do RLF são variados e podem se sobrepor a outras condições, um diagnóstico preciso é fundamental. Tentar autodiagnosticar ou tratar os sintomas isoladamente (como tomar xarope para tosse ou pastilhas para garganta) geralmente não resolve a causa raiz do problema.

É aqui que entra a expertise do médico otorrinolaringologista. Este especialista possui o conhecimento e as ferramentas necessárias para avaliar os sintomas, examinar a laringe e a faringe e determinar se o RLF é o culpado.

Quando procurar ajuda médica?

Se você está experimentando um ou mais dos sintomas mencionados (tosse crônica, pigarro, rouquidão, sensação de globo etc.) por mais de algumas semanas, sem uma causa aparente como uma infecção viral, é hora de considerar uma avaliação médica.

A consulta com um otorrinolaringologista é especialmente importante se:

O médico realizará uma anamnese detalhada, perguntando sobre seus sintomas, hábitos alimentares e estilo de vida. Um exame essencial é a videolaringoscopia: um pequeno tubo com uma câmera na ponta é inserido pelo nariz para visualizar diretamente a laringe e a faringe, procurando por sinais de inflamação e irritação típicos do RLF.

Esse exame permite ao médico “ver” o impacto silencioso do refluxo, confirmando o diagnóstico e descartando outras possíveis causas para os seus sintomas. A partir daí, um plano de tratamento para refluxo personalizado pode ser traçado.

Com o diagnóstico em mãos, é possível explorar as diferentes abordagens para controlar o refluxo e aliviar os sintomas.

Caminhos para o alívio: opções de tratamento para refluxo

Felizmente, o refluxo laringofaríngeo é uma condição tratável. O objetivo do tratamento para refluxo é duplo: reduzir a quantidade e a acidez do conteúdo estomacal que reflui e proteger a mucosa da laringe e da faringe para permitir sua cicatrização.

A abordagem geralmente combina mudanças no estilo de vida e, em muitos casos, medicação. 

Mudanças no estilo de vida que fazem a diferença

Muitas vezes, ajustes nos hábitos diários podem ter um impacto significativo no controle do RLF. Aqui estão seis dicas importantes:

  1. Ajustes na dieta: evitar ou reduzir o consumo de alimentos e bebidas que podem relaxar o esfíncter esofágico inferior ou aumentar a produção de ácido. Exemplos incluem: café, chá preto, chocolate, bebidas alcoólicas, refrigerantes, alimentos gordurosos, frituras, frutas cítricas, tomate e produtos derivados, menta e hortelã. Comer porções menores e mais frequentes também ajuda.
  2. Não comer perto de dormir: evite comer em torno de 2-3 horas antes de se deitar. Isso dá tempo para o estômago esvaziar, reduzindo a chance de refluxo durante a noite.
  3. Elevar a cabeceira da cama: colocar calços sob os pés da cabeceira da cama (cerca de 15-20 cm) ou usar um travesseiro em formato de cunha ajuda a gravidade a manter o conteúdo do estômago no lugar enquanto você dorme. Empilhar travesseiros comuns não é tão eficaz e pode piorar o quadro ao dobrar o abdômen.
  4. Controle de peso: o excesso de peso, especialmente na região abdominal, aumenta a pressão sobre o estômago, favorecendo o refluxo. Perder peso, se necessário, pode trazer grande alívio.
  5. Evitar roupas apertadas: roupas que apertam a cintura ou o abdômen também podem aumentar a pressão intra-abdominal e piorar o refluxo.
  6. Parar de fumar: o tabagismo relaxa o esfíncter esofágico inferior e pode aumentar a produção de ácido, além de irritar diretamente a garganta.

A importância do acompanhamento médico especializado

Embora as mudanças no estilo de vida sejam a base do tratamento para refluxo, muitas vezes é necessário o uso de medicamentos para controlar a produção de ácido (como os inibidores de bomba de prótons – IBPs) ou para proteger a mucosa.

A escolha do medicamento, a dose e a duração do tratamento devem ser estritamente orientadas pelo médico. O uso inadequado ou prolongado de certos medicamentos pode ter efeitos colaterais. 

O acompanhamento com um especialista permite ajustar o tratamento para refluxo conforme a resposta do paciente, garantindo a eficácia e a segurança. Em alguns casos, outros medicamentos ou abordagens podem ser considerados.

Lembre-se: o objetivo é controlar o refluxo para que a garganta e a voz possam se recuperar e você possa voltar a ter qualidade de vida.

Conclusão: desmascarando o vilão silencioso

Como o refluxo ácido pode afetar a garganta e a voz sem que o paciente perceba claramente a conexão com o estômago? A resposta está na natureza “silenciosa” do RLF. O ácido e as enzimas sobem até a laringe e faringe, áreas altamente sensíveis, causando irritação e inflamação crônicas. 

Como os sintomas clássicos de azia estão frequentemente ausentes, os sinais resultantes – tosse, pigarro, rouquidão, sensação de aperto na garganta – são facilmente atribuídos a outras causas. O dano ocorre gradualmente, de forma quase invisível inicialmente, até que os sintomas se tornem persistentes.

O refluxo laringofaríngeo é, de fato, um vilão que age nas sombras, comprometendo a saúde vocal e respiratória de maneira sutil, mas significativa. Identificar seus sinais atípicos é o primeiro passo crucial. 

O diagnóstico preciso, realizado por um especialista como a Dra. Allyne Capanema através de uma avaliação cuidadosa e exames como a videolaringoscopia, é essencial para desmascarar esse problema.

Felizmente, com o diagnóstico correto, um plano de tratamento para refluxo eficaz, combinando mudanças de hábitos e, quando necessário, medicação sob orientação médica, pode controlar a condição, aliviar os sintomas e restaurar a saúde da sua garganta e a clareza da sua voz. 

Não ignore os sinais que seu corpo envia, mesmo que eles pareçam desconectados ou “silenciosos”.

Sua voz anda falhando ou a garganta parece sempre irritada, mesmo sem sentir azia? Esses podem ser recados do seu corpo sobre um refluxo silencioso. Não deixe que esse incômodo vire um problema crônico. 

A Dra. Allyne Capanema pode ajudar a investigar a fundo e traçar o melhor caminho para você respirar aliviado e soltar a voz com confiança. 

Que tal agendar uma conversa e entender o que realmente está acontecendo? Sua saúde vocal e bem-estar agradecem.